A partir de hoje teremos aqui no blog uma seção de artigos comentados, com periodicidade quinzenal, para estimular nossa leitura e discussão dos estudos da Odontologia do Esporte.
Vamos começar com um artigo nacional, dos autores Jivago Barreto França Cordeiro, Luceana Barreira Forte, Jiovanne Rabelo Neri, Saulo Ellery Santos, Fábio de Almeida Gomes e Danilo Lopes Ferreira Lima sobre lesões bucofaciais em surfistas, publicado na Rev. Bras de Ciências do Esporte (Um salve para o professor Danilo Lima de Fortaleza, autor do primeiro livro sobre Odontologia do Esporte no Brasil, torcedor roxo do Ceará Sporting Club ;) ).
Bora?
(Acompanhe no artigo original:
No Brasil o surf é um esporte bastante popular, com muito espaço para crescimento. Como os autores bem pontuaram, são 4.000 km de extensão litorânea com boas condições climáticas, o que favorece a escolha deste esporte como opção de atividade física que além de tudo promove contato com a natureza.
Não é uma modalidade fácil, exige reflexo e boa capacidade física por parte dos praticantes e é também inconstante, pois depende das condições climáticas e oceânicas e é justamente a combinação destes fatores de risco específicos que geram lesões nos adeptos do surf e que foram objeto de estudo neste artigo.
Estudar lesões bucofaciais em surfistas justifica-se pois "A cabeça e a face são os locais mais prevalentes de lesões entre os surfistas (Furness et al., 2015). A maioria das lesões bucofaciais ocorridas em atletas, em geral, é localizada nos lábios superiores e na maxila e os traumatismos dentários ocorrem, principalmente, nos incisivos centrais superiores (Emerich & Kaczmarek, 2010; Welch et al., 2010)."
Esse trabalho foi realizado com uma amostra relativamente considerável, foram 150 surfistas homens, amadores e profissionais.
Um questionário foi aplicado com questionamentos referentes a:
- uso de protetor bucal para prevenção de lesões dentoalveolares (sim; não);
- uso de protetor solar para a face (sim; não);
- uso de protetor solar para os lábios (sim; não);
- ocorrência de lesão associada à prática esportiva (sim; não);
- tipo de lesão (fratura dentária; fratura de ossos da face; laceração de mucosa; queimadura do lábio; queimadura da face; avulsão dentária);
- forma de ocorrência da lesão (prancha; fundo de rocha; fundo de coral; fundo de areia; animal marinho; choque com surfista; choque com banhista; raios solares).
Nenhum surfista pesquisado usava protetor bucal, fato que percebemos na nossa clínica diária, não é? Mesmo 56% reportando lesão bucofacial e 28% com histórico de mais de um tipo de lesão. (33,3%) indivíduos afirmaram ter sofrido lesões em decorrência de impacto com a prancha, sua ou de outro surfista.
Eu já atendi dois surfistas que haviam sofrido avulsão dentária por impacto direto com a prancha e é claro, perderam o dente no mar. Dois atletas bem jovens, com lesões facilmente evitáveis com o uso de protetores bucais.
Alguns surfistas (não os que foram pesquisados neste artigo) usam os protetores bucais ferve e morde acoplados a câmeras para gravar as manobras, o que gera ainda mais risco para potenciais traumatismos. Dá uma olhadinha aqui: facebook.com/faceclarapadilha/photos/
Os autores do artigo escrevem sobre a necessidade de uma maior conscientização para que todas as medidas preventivas de lesões bucofaciais sejam implantadas para os atletas do surf e de outras modalidades que usam pranchas.
Somente 36 (24%) faziam uso de protetor facial e 30 (20%) de protetor labial.
Números muito baixos frente às consequências da exposição solar (Ainda mais no Ceará!). 25,3% afirmou ter sofrido lesões através de raios solares. Hoje em dia já existem protetores solares e labiais para atletas, que não tem gosto, não sai na água nem com o suor. A marca que eu indico por aqui é a @pinkcheeks
Quando investigada a relação das lesões com a idade, tempo de prática e frequência semanal de treino observou- -se que indivíduos mais velhos têm uma maior presença de lesões (p = 0,024), notadamente as fraturas dentárias (idade p = 0,001) e as fraturas de osso da face (p = 0,05).
O que podemos perceber nesse artigo sobre fatores etiológicos e suas consequências nos atletas do surf é que tanto as lesões traumáticas, quanto as lesões por queimaduras solares tem consequências severas e a longo prazo e são facilmente evitáveis, com medidas simples de prevenção e orientação.
É nosso trabalho como cirurgiões-dentistas do esporte promover saúde com segurança, baseada em evidências científicas e, sendo o surf um esporte tão popular em nosso país, temos bastante trabalho pela frente!
Clara