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  • Clara Padilha

*Artigo comentado: Saliva como fluido diagnóstico para utilização na medicina esportiva: potencialid


Leia aqui o ARTIGO ORIGINAL. Leia mesmo, pois este artigo merece ser estudado e não apenas comentado. Se você é dentista do esporte (ou estudante) precisa se aprofundar na questão fisiológica e pode até começar por aqui, mas vai ter que sentar e estudar este tipo de artigo ou livro, para relacionar com outros conteúdos que você vai encontrar pela frente.

Não é de hoje que os profissionais da saúde no esporte discutem sobre formas de coleta de fluídos que nos entreguem informações relevantes. A mais utilizada é a coleta de sangue porém, mesmo com o método de "picada no dedo" ao invés da punção venosa, é desconfortável para o atleta e como existe necessidade de coleta em diferentes momentos, isso representa um atraso para a monitoração do laboratório.

Neste contexto, a coleta salivar ganha significativa importância: não é invasiva, exige pouca orientação para a coleta e a coleta é muito segura.

Muito ainda pode ser discutido sobre essa coleta e formas de padronização na mesma como: a escolha precisa do sistema de coleta, que permite quantificar o volume facilmente, com boa recuperação da amostra; os cronogramas de coleta definidos de acordo com possíveis variações circadianas; a prevenção da contaminação da amostra com sangue de lesões da mucosa oral.

Pensando neste cenário, este artigo que discutimos esta semana, teve como objetivo realizar uma análise das potencialidades e limitações do o uso da saliva no esporte.

O artigo recapitula o tópico de produção salivar, anatômica e histologicamente, e lembra que a secreção de saliva diminui, principalmente devido à ação adrenérgica, desidratação ou evaporação. É importante relembrar as características de formação salivar pois a saliva contém compostos que são sintetizados principalmente em células acinares e, em menor extensão, em células do ducto. Isso quer dizer que alguns componentes da saliva não estão relacionados com as concentrações plasmáticas, mas estão relacionadas com a resposta glandular local. Além disso, existem alterações de concentração de numerosos eletrólitos devido ao transporte de íons ativos, por isso a saliva tem característica hipotônica em relação ao sangue.

Outros elementos como bactérias, células epiteliais, eritrócitos, leucócitos, restos de comida ou contaminação de creviculares gengivais líquido (devido à inflamação gengival) também pode estar presente saliva. Este fato não pode ser negligenciado, pois pode causar vários interferências em ensaios analíticos.

Os componentes presentes na saliva desempenham vários papéis vitais na imunidade da mucosa oral (imunoglobulina A [IgA], mucinas cistatinas), na proteção dos dentes contra a ação do microorganismos (lisozima, lactoferrina, histamina), na digestão (alfa-amilase e protease) e no tamponamento de substâncias ácidas (bicarbonato, fosfato e proteínas). O artigo recapitula estes componentes orgânicos, inorgânicos, proteínas e também hormônios constituintes da saliva.

Vários fatores fisiológicos ou patológicos podem alterar a produção saliva quantitativa e qualitativamente, por exemplo, mastigação, fatores psicológicos, medicação, idade, higiene bucal e atividade física.

A atividade física pode alterar a quantidade de proteína salivar. As que mais sofrem são a alfa-amilase salivar e a IgA, que pela falta de padronização na coleta e análise acaba por entregar resultados conflitantes. Alguns artigos relatam diminuição do IgA, outros estabilidade e outros até mesmo aumento. Eu acredito que as palavras chave para avaliar esse tipo de situação são: intensidade e duração do exercício. São elas que podem influenciar a resposta do ser humano.

O mesmo vale para a alteração da concentração iônica de saliva, especialmente Na+ e K+. E também Cl-. Essas mudanças podem ser creditadas à estimulação simpática, que induz mudanças no fluxo salivar, reabsorção e secreção de eletrólitos nas células secretoras.

Percebemos então que a saliva sofre alterações sim durante o exercício físico e que, o uso de saliva em testes de laboratório tem grande potencial, embora ainda seja necessário padronizar algumas variáveis pré-analíticas, como o sistema de coleta, levando em consideração o analito a ser quantificado, os cronogramas de coleta, quantificação de volume, recuperação de amostras e prevenção de contaminação da amostra com sangue proveniente de lesões da mucosa oral. A falta de correlação entre alguns analitos presentes no saliva e sangue não exclui a possibilidade de usar este fluído em laboratórios, embora exija o estabelecimento de intervalos de referência específicos para essas análises através de métodos, com pequenas modificações nas técnicas para maximizar a sensibilidade.

E eu concluo o seguinte: Coleta de informações por saliva é o futuro (nada, é o presente!)

Sugiro também que acompanhem o trabalho da @adentistacientista que faz todo esse trabalho e estuda tudo isso em atletas no Saliva Lab. Trabalho que merece ser divulgado, e acompanhado por nós, cirurgiões-dentistas do esporte.

Grande beijo e ótima semana!

Clara


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