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Juliana Órsia

Uma abordagem diferente, numa fase diferente


Hoje convido você para refletir sobre o atleta numa fase diferente, quando o corpo já não responde mais como antes, quando já conquistou as medalhas, quando percebe que é a hora de encerrar com as competições... É a hora de parar.

E digo mais: o corpo do atleta pode até “parar”, mas a cabeça continua treinando, sentindo fome, pressão, cobrança, como antes.

É preciso direcionar nosso olhar clínico para essa fase também! Atleta nunca deixa de ser atleta porque para de competir. Continua sendo atleta pois as sequelas de todo esforço, todo desgaste, todas as lesões, todas as memórias continuam com ele até o final de sua vida. Eles continuam indo para a fisioterapia, continuam indo aos treinos, continuam vibrando com o torcedor e... Continuam comendo como atletas de alto rendimento.

Dentre todas as sequelas físicas ligadas à carreira aposentada de um atleta, eu gostaria de frisar a nossa importância na conscientização de um problema em específico: o hábito alimentar hipercalórico que permanece no atleta junto dessa nova fase.

Um atleta na fase de auge não come por prazer, come porque o alimento serve como ENERGIA. E energia para eles é necessidade primordial! Por isso, a grande quantidade de comida não supre somente uma necessidade, mas também funciona como estratégia dentro da maioria dos esportes. Porém, encerrando a carreira, a demanda energética diminui drasticamente, o que antes era ESTRATÉGIA ALIMENTAR hipercalórica se torna HÁBITO ALIMENTAR hipercalórico, propenso para a evolução de DISTÚRBIO ALIMENTAR e sobrepeso.

Falo por mim mesma, mas com segurança: a responsabilidade de ensinar a mastigar, saborear, deglutir não é só do nutricionista não, viu?

É do cirurgião-dentista também – quem lembra das aulas de fisiologia da mastigação/deglutição ou dos botões gustativos da biologia celular? o/

Então vamos botar a cachola pra funcionar e ajudar nossos pacientes na prática?

É claro que não poderemos acompanhar ao vivo as refeições para poder modular o que nos interessa, mas podemos conscientizar. Comentar sobre a MASTIGAÇÃO e HIGIENIZAÇÃO não é uma má ideia 😉

Lembramos que os botões gustativos enviam duas informações muito importantes para o cérebro:


1) o sabor do alimento;

2) a sensação de saciedade – essa que, possivelmente, foi ignorada por aaaanos, dentro de uma rotina dietética onde o atleta jamais pôde se dar o luxo de largar os talheres ao sentir-se satisfeito.

Para reativar e reorganizar novamente o entendimento da “saciedade” pelo cérebro, é necessário mastigar muito bem os alimentos até que se transformem em líquido na boca, antes de engolir. Essa pequena atividade pode valer muito a pena, pois o alimento só atravessa pelo pequeníssimo e microscópico poro do botão gustativo (excitá-lo significa enviar mensagem de saciedade para o cérebro), se estiver muito bem triturado sobre a superfície da língua.

Outro ponto muito importante é a higienização da língua. Pouca importância se dá para a remoção da saburra lingual, mas caprichando na escovação dessa superfície faz-se excelente desobstrução das papilas gustativas, melhorando assim a absorção dos alimentos pelos poros que ali estão. (Mas antes da refeição? Sim, antes da refeição).

Basta agora fazer sua parte, conversar e conscientizar o atleta a respeito de alguns assuntos que podem fazer MUITA diferença para ele e colaborar em muitos aspectos (lembre-se disso: atleta NUNCA deixa de ser atleta, apenas pára de competir profissionalmente 😉).

Para a Odontologia do esporte, pensar no “TODO” não é só uma questão filosófica, mas é uma necessidade real que nos fornece a experiência incrível de abordar em multidisciplinaridade. Pense fora da caixinha – com embasamento – porque toda ajuda será bem-vinda.

 

Referências:

DOTY LD, Bromley SM. Olfaction and Gustation. In: Snow JB, Ballenger JJ. Ballenger's Otolaryngology and Head & Neck Surgery. New York: BC Decker, 2002, p. 561-591.

GUYTON, A. C. Fisiologia Humana. 6ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2008. 564 p. Histologia Básica \u2013 Luiz C. Junqueira e José Carneiro. Editora Guanabara Koogan S.A. (10° Ed), 2004

Noticiários:

https://www5.usp.br/64248/estudo-da-fea-analisa-a-transicao-da-carreira-de-atletas-de-alto-rendimento/

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2019/01/obesidade-vira-flagelo-de-ex-jogadores-de-futebol-americano.shtml

https://www.folhadelondrina.com.br/reportagem/sobrepeso---proximo-adversario-a-balanca-822325.html


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