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Clara Padilha

*Art Comentado: Grandes eventos esportivos - o papel e a visão de um dentista do esporte


O artigo comentado desta semana tem como autores os dentistas e professores Peter Fine e Torsten Moehl. Professor Peter que eu tive o prazer de conhecer na metade deste ano, em Londres e que já demonstrava seu amor pela Odontologia em grandes eventos.

O título é interessante: "The Fifth Asian Indoor and Martial Arts Games in Turkmenistan – A dentist's perspective" invocando a curiosidade em relação à uma visão diferenciada deste profissional sobre um evento esportivo de magnitude. Não é sempre que temos um relato tão detalhado sobre a vivência interna em uma grande competição, então vamos aproveitá-la:

Ambos tem experiência com eventos esportivos, tendo atuado, inclusive, nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012 e Rio de Janeiro em 2016.

Este artigo é uma visão pessoal dos dois, é bastante narrativo (o que o deixa interessante) e mostra como a Odontologia pode ser diversificada; fornece uma visão pessoal de Odontologia em condições difíceis e transfere as habilidades preconizadas no profissional para a arena esportiva.

Os autores relatam que desde o reconhecimento, nos anos 80, da necessidade de estabelecer um subgrupo de Odontologia que lida especificamente com as demandas dentárias do atleta, está começando a tornar-se mais comum incluir dentistas esportivos no grupo médico em eventos esportivos.

A primeira dificuldade relatada foi sobre a necessidade de ultrapassar barreiras linguísticas, culturais e étnicas para oferecer o melhor atendimento aos atletas de 60 diferentes países que estavam representados no Turquemenistão.

Também relatam que os seus crachás de credenciamento de membros da equipe médica aceleraram o complicada processo na imigração, mas mesmo assim ninguém entrou sem impressões digitais, fotografias e digitalizações da retina, como bem como bagagem verificada para qualquer item incorreto ou ofensivo.

Mas tirando esses "perrengues", logo descrevem momentos memoráveis como, por exemplo, chegar na Vila Olímpica, onde ficaram hospedados e ver, pela primeira vez, a tocha "olímpica" no alto de uma enorme cabeça de cavalo.

É relatado que esta escultura é a maior cabeça de cavalo de concreto no mundo. Esta vila acomodou os 6000 delegados e atletas participantes deste evento. Imagine ser responsável pela saúde e bem-estar de tanta gente ao mesmo tempo, não é mesmo?

Eles relatam uma rotina de trabalho de 12h, com 3 horas de intervalo para almoço. Uma desvantagem, segundo eles, foi não conseguir assistir aos jogos, mesmo tendo passe livre para todas as áreas.

O relato dos autores sobre a cobertura médica em cada local é interessante, consiste em um paramédico ou médico de esportes, apoiado por um fisioterapeuta esportivo e um cirurgião-dentista. Vários locais não dispunham de tão abrangente cobertura, mas eles estavam disponíveis para visitar outros locais, se necessário. Também tiveram que aprender a estabilização do campo de jogo e técnicas de evacuação do campo de jogo para a sala médica no local, onde o paciente era triado e tratado, se possível. Se a lesão fosse mais grave, o paciente era transferido para a Policlínica no Complexo Olímpico, composta por médicos, fisioterapeutas, radiologistas e terapeutas esportivos.

Se a condição do paciente era considerada instável, um outro encaminhamento para um hospital local seria feito onde o pessoal local trataria a lesão.

Dentro da Policlínica muito bem equipada também foi realizada uma cirurgia dentária, operada pelos dentistas locais de Turquemenistão, que haviam recebido treinamento clínico na Rússia.

Segundo os autores, apesar de ter um aparato odontológico razoavelmente bem equipado, eles pareciam se contentar em extrair qualquer problema dental que aparecesse, demonstrando exercer uma Odontologia ainda não muito conservadora. Nossos dentistas autores então, se preocuparam em não era apenas tratar o paciente, mas também deixar um legado, ensinando médicos, enfermeiros e dentistas procedimentos estruturados no gerenciamento de lesões esportivas. Isso pareceu estranho no começo, já que estávamos trabalhando com pessoal médico altamente qualificado, como anestesistas, cirurgiões gerais e cardíacos e assim por diante, mas logo ficou claro que existem diferentes abordagens da medicina em diferentes partes do mundo e o conjunto de habilidades aplicáveis ​​ao seu ambiente hospitalar nem sempre se traduzia bem na arena esportiva.

Isso, segundo eles, proporcionou uma ótima experiência no sentido de respeitar as competências dos locais e ao mesmo tempo introduzir novos conceitos sobre a prática clínica.

Em relação às consultas de urgência que ocorriam, com lacerações e traumas faciais e bucais que ocorriam, os autores lamentam a recusa de muitos atletas em seguir o protocolo completo de atendimento, em detrimento de uma nova luta ou um novo compromisso de competição mais tarde.

Eles também lamentam, no artigo, a pobre qualidade dos protetores bucais encontrados durante a competição e que sua oferta para levar os equipamentos e materiais necessários para confecção destes não foi aceita pela organização. Isso acabou levando-os a participar de alguns atendimentos relacionados a fraturas, é claro, e realizar procedimentos rápidos de estabilização, pré-hospitalar, como o que mostra a foto:

Os autores chamam a atenção para uma sociedade onde as viagens ao exterior são fortemente restritas, e acreditam que apenas ter o presença de diferentes culturas em torno de 60 nações diferentes deve ter algum efeito sobre os jovens geração deste país, o que caracteriza um legado esportivo por si só.

Como legado na saúde, os dentistas esperam ter deixado o valor de uma avaliação odontológica do atleta pré-partida, a importância da boa saúde bucal na melhoria dos resultados esportivos, a técnicas para a fabricação de protetores bucais adequados e o tratamento adequado de lesões teciduais.

 

Esse é um artigo comentado. Para ter acesso ao artigo original clique AQUI

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