Os recursos digitais para soluções em odontologia já estão presentes no mercado há algum tempo e, portanto, essa demanda acaba também por chegar na odontologia do esporte. É muito conveniente o uso dessas tecnologias no trabalho do atleta, pois aumenta a previsibilidade dos tratamentos propostos e pode reduzir o tempo de tratamento e atendimento, quando bem realizado.
Porém, ainda parece incipiente a inserção da especialidade em alguns quesitos em que o fluxo digital poderia ser utilizado.
Onde esse tipo de tecnologia entra no nosso trabalho?
1º: Diagnóstico: principalmente em fraturas, elementos inclusos e grandes traumatismos, já é amplamente utilizado. O uso das tomografias computadorizadas, ressonâncias magnéticas e radiografias digitais são capazes de nos apresentar com clareza localização e detalhes, além de permitir planejamentos mais precisos e intervenções com menor morbidade.
2º Softwares de desenho e planejamento: quando se fala principalmente na construção de protetores bucais e faciais, não há softwares que tenham essas funções. Ainda precisamos adaptar o desenho de protetores bucais baseados em outros dispositivos intraorais, o que pode comprometer o tratamento ideal. Sobre os protetores faciais, ainda não há registros na literatura dessa tentativa.
3º Escaneamento: já é uma realidade em clínica, mas que deve ser utilizada com sabedoria no nosso trabalho. Grande parte dos scanners possuem pontas de escaneamento rombas que dificultam a cópia dos tecidos moles até o fundo de sulco e, portanto, requerem do operador uma certa destreza para a construção de dispositivos satisfatórios. Do mesmo modo, algumas resinas de impressão dos modelos são termossensíveis, o que torna a construção de protetores sobre modelos impressos mais cautelosa.
Existem também scanners faciais que apresentam uma alternativa muito promissora ao atleta traumatizado, já que o procedimento de moldagem para a confecção do protetor facial pode ser traumático e causar desconforto.
3º Impressão 3D: linhas de pesquisa que utilizam da manufatura aditiva para a construção de protetores bucais já são encontradas na literatura. Estas utilizaram estereolitografia e a impressão por filamento e instaladas em pacientes. Ainda necessitam de melhores protocolos, materiais biocompatíveis e testes mecânicos com as matérias primas que estas impressoras oferecem, porém, é uma realidade próxima. Os principais benefícios das técnicas relatadas foram a uniformidade da espessura em toda a extensão do dispositivo, a estabilização oclusal e a fidelidade de cópia.
4º Prontuários eletrônicos e troca de informações: talvez, este não seja um tópico pesquisado e devidamente divulgado. Porém, com a realidade dos clubes, transferência de atletas e diferentes profissionais, a era digital permite a troca de informações e o contato instantâneo entre as equipes de saúde. Além disso, a possibilidade de uma base de dados unificada pode prover a nós, como profissionais, um bom levantamento epidemiológico da saúde bucal da população atlética.
Por fim, entende-se que este novo fluxo de trabalho merece atenção da especialidade, já que há uma grande lacuna em pesquisa para sua aplicação.
Já tem algum palpite para a próxima tecnologia que virá a nos acrescentar?
Referências
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Yanagi, Tsukasa & Kakura, Kae & Tsuzuki, Takashi & Isshi, Kouta & Taniguchi, Yusuke & Hirofuji, Takao & Kido, Hirofumi & Yoneda, Masahiro. (2019). Fabrication of Mouthguard Using Digital Technology. Dentistry. 09. 10.4172/2161-1122.1000531.
http://ri.avantis.edu.br/obra/view/292
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