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  • Helena Fronza

Exame físico extra-oral do atleta: por que tão importante?

O atendimento de praticantes de alguma modalidade esportiva traz consigo diversas particularidades a serem observadas durante o atendimento. Uma das partes mais importantes, que nos dá muitas informações não só da saúde geral, mas também o que esperar da saúde bucal, é o exame físico (e não necessariamente o exame físico bucal).


Este inicia logo que o paciente entra pela porta do consultório e se dá até o final da consulta.


O exame físico sempre estará atrelado e será avaliado juntamente a anamnese. A anamnese do atleta possui algumas diretrizes e pontos principais a serem questionados, entretanto, ela possui uma maleabilidade, já que a investigação do CD é fundamental para a construção do perfil do paciente. Ou seja, o profissional direciona a entrevista e adiciona detalhes importantes que foram vistos durante o atendimento e que requerem atenção.


Assim, qualquer sinal que o cirurgião-dentista observar no exame, será questionado em anamnese, ou melhor avaliado durante o exame clínico intrabucal, ou escrito em evolução para o acompanhamento.



O que olhamos no exame físico que pode ser diferente (ou deve ter atenção extra) em relação a um paciente não atleta?



- Porte físico: se este é musculoso, se é muito magro, se é muito alto, se está acima do peso. Este é o primeiro olhar para o possível uso de esteroides, de hormônios do crescimento, perfil sugestivo de alguma desordem alimentar, que fazem toda a diferença em nossa conduta (e que dificilmente o paciente irá relatar na primeira consulta). Isso, claro, considerado junto a modalidade e a categoria em que seu atleta se apresenta;



- Postura e assimetrias: alterações posturais que possam sugerir a respiração bucal, ou algum desequilíbrio estomatognático que pode ser corrigido para uma troca gasosa mais eficiente;


- Cicatrizes: este tópico é muito importante. Quando em anamnese o atleta é questionado sobre histórico de traumatismos, raramente este se recorda de algum evento, caso não tenha sido de grande magnitude. Cicatrizes, mesmo que pequenas, em cabeça e pescoço devem ser questionadas. Não apenas estas, mas grandes cicatrizes que são detectadas no corpo também, pois podem revelar um traumatismo maior, e a questão orofacial pode ter sido negligenciada, já que não foi a grande urgência daquele evento.

Atente-se e reforce ao paciente que traumatismo não é apenas alguma fratura ou traumatismo dental. Estão valendo as lacerações, as contusões e as abrasões, que também são frequentemente negligenciadas. Desse modo, a justificativa do uso do protetor bucal fica palpável para o atleta, pois você faz com que ele mesmo reconheça a sua necessidade;


- Rugas estáticas, manchas, lesões pré-cancerizáveis (principalmente em triatletas, remadores, surfistas e outros atletas de esportes ao ar livre): atletas expostos frequentemente ao sol devem ser orientados quanto ao uso de protetores solares e labiais para a prevenção de lesões malignas e envelhecimento precoce.


- Pressão arterial: atletas cuja modalidade envolva força, podem apresentar uma maior PA, o que não caracteriza necessariamente uma condição patológica ou limitante de atendimento, mas que deve ser monitorada.


- Peso e altura: ter uma ideia do IMC do atleta e seu peso, isoladamente, podem nos complementar informações sobre desordens alimentares, uso de medicações, principalmente quando atrelados a competições com categorias segregadas por peso ou modalidades com exigência estética.


- Herpes Gladiatorum: Além de inviabilizar o tratamento odontológico naquele dia, a recorrência de herpes em atletas é comum, principalmente em esportes de contato, mergulhadores (pelos acessórios de boca) e os esportes com alta exposição solar. São altamente contagiosas e 70% de sua incidência ocorre na face. Deve fazer parte também da anamnese, para que o controle dessas lesões seja realizado.




- Piercings e adereços: o CD deve estar atento aos acessórios do paciente e encorajar a remoção destes, tendo em vista o risco aumentado aos traumatismos orofaciais e também aos efeitos bucais como recessões, reabsorções e infecções, caso algum destes adereços esteja em contato com o meio bucal.





- Distúrbios têmporomandibulares (DTMs): já que o público esportivo demonstra ser um público de risco para as DTMs (explicado em outro artigo do blog), o dentista que trabalha com odontologia do esporte deve estar familiarizado com o seu exame e diagnóstico, além da anamnese. Assim, origens de dores nesta área podem ser explicadas e tratamentos podem ser instaurados.


Estes são alguns dos detalhes em que o cirurgião-dentista responsável por um atleta deve atentar-se e que, normalmente, não estão em evidência no dia-a-dia com o paciente não atleta.


Ainda assim, se algum desvio da normalidade não for encontrado, não negligencie, ou deixe de anotar: grande parte do trabalho do (bom) CD que atende o atleta é conseguir prever e estabelecer medidas para prevenir qualquer tipo de agravo.




 

Referências


Zadik Y, Drucker S. Diving dentistry: a review of the dental implications of scuba diving. Aust Dent J. 2011;56(3):265–271. doi:10.1111/j.1834-7819.2011.01340.x


Anderson, B. J. The Epidemiology and Clinical Analysis of Several Outbreaks of Herpes Gladiatorum. Med. Sci. Sports Exerc., Vol. 35, No. 11, pp. 1809–1814, 2003.


Peterson AR, Nash E, Anderson BJ. Infectious Disease in Contact Sports. Sports Health. 2019;11(1):47–58. doi:10.1177/1941738118789954


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