top of page
  • Foto do escritorClara Padilha

O dentista do esporte e a prescrição de medicamentos. Como prevenir o doping?

Autor: Lucas Berard



gif

O aumento da popularidade esportiva entre as mais diversas competições, amadoras e/ou profissionais, foi acompanhado pela crescente utilização de algumas substâncias por atletas, com o objetivo de elevar o desempenho físico e, consequentemente obter melhores resultados, maior destaque e prestígio social.


Porém, o abuso de ingestão dessas substâncias pode ocasionar graves riscos sistêmicos, como por exemplo, infecções locais e generalizadas, fadiga crônica, cardiopatias, entre outros problemas que podem vir a se desenvolver.


Além disso, existem muitos medicamentos que não são permitidos no meio esportivo e, portanto, considerados doping. O doping é definido pela WADA (World anti-doping agency) como: “a utilização de substâncias ou métodos capazes de aumentar artificialmente o desempenho esportivo, sejam eles potencialmente prejudiciais à saúde do atleta ou de seus adversários, ou contrário ao espírito de jogo”.


gif

Os atletas foram testados pela primeira vez nos Jogos Olímpicos, em 1968, na cidade do México. Mesmo que o foco principal nesse primeiro teste tivesse sido os estimulantes, a detecção de outros compostos também se fez necessária. Durante as décadas de 50 e 60, em função do avanço da química orgânica, uma grande variedade de compostos biologicamente ativos, conhecidos como fármacos, foram descobertos e produzidos, incluindo diuréticos, beta bloqueadores, corticosteroides e esteroides anabólicos.


Esses compostos foram extensivamente utilizados por atletas durante os anos 70. No final dessa década e principalmente nos anos 80, a biotecnologia avançou de modo significativo. Como o nome já sugere, a biotecnologia é um conjunto de técnicas que usa organismos vivos, ou partes destes, para produzir bens e serviços para o homem. Uma forma para tentar burlar o exame de dopagem foi a utilização dos chamados esteroides projetados.


Essas substâncias são produzidas em laboratório, e constituem esteroides quimicamente modificados. Ou seja, baseados nos esteroides normalmente produzidos no organismo humano, são feitas alterações na estrutura química que mantenham características muito semelhantes entre ambos, o que dificulta sua detecção. A análise do controle de dopagem no esporte se tornou um campo multidisciplinar de estudo, pois associa diversos conhecimentos que vão desde a Química Analítica e a Química Orgânica até as áreas da Farmacologia, Bioquímica e Fisiologia Humana.


Em 1967, o Comitê Olímpico Internacional (COI) condenou a prática do doping, quando foi apresentada uma lista de substâncias consideradas proibidas e iniciou o controle antidoping sob sua responsabilidade. No final da década de 1990, em decorrência da elevada prevalência de atletas que utilizaram substâncias ilícitas na Volta Ciclística da França, em 1998, o COI decidiu organizar um congresso reunindo administradores de esportes, profissionais de saúde, atletas e o público em geral para a discussão do problema.


A WADA foi criada em 1999 como uma organização mundial independente e passou a controlar os exames de atletas em competições.


No Brasil, o controle do doping foi introduzido pela Federação Paulista de Futebol (FPF), em 1974, através da realização dos exames no Laboratório de Análises Toxicológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (LAT/FCF/USP).


O cirurgião-dentista é o profissional capacitado, habilitado e responsável pela prescrição de medicamentos e detém o conhecimento sobre classificação das drogas, mecanismo de ação, efeito principal, composição, restrições, posologia, concentração, efeitos adversos, indicações, entre outras características. Sendo assim, a Odontologia tem papel relevante na prevenção do doping, já que, em alguns casos se faz necessário a prescrição medicamentosa para atletas que estejam sob determinado tratamento odontológico.


A abordagem terapêutica do cirurgião-dentista deve ir além do conhecimento teórico farmacológico. É fundamental que o cirurgião dentista faça a execução minuciosa da anamnese para entender o perfil, as características, hábitos, rotina, condição sistêmica, entre outras informações do paciente, como por exemplo, a função social/profissão do mesmo. O CD deve ter o sinal de alerta aceso para com um paciente atleta. Isso porque, um atleta profissional poderá sofrer sérias consequências até em âmbito judicial, se comprovado que o mesmo fez a ingestão de algum medicamento proibido e receitado pelo cirurgião dentista, podendo esse atleta até ser banido do esporte.

Um dos casos mais emblemáticos da Odontologia referente ao doping está relacionado ao medicamento Tylex. Trata-se de um analgésico de uso frequente em odontologia, indicado em casos de dor moderada a intensa, pós extração dentária, por exemplo. A grande questão é que o princípio ativo do Tylex é a codeína, que não é uma substância proibida pela WADA. Porém, a codeína se biotransforma em morfina, quando passa pelo fígado em seu processo de metabolização. E, a morfina é proibida e consta na lista S7 WADA, como narcótico, ou seja, um medicamento que atua no sistema nervoso central, de modo a diminuir e “mascarar” a sensação de dor.

Portanto, o cirurgião-dentista deve estar sempre atento ao perfil dos pacientes atendidos pelo mesmo e atualizado em relação aos conhecimentos em terapêutica medicamentosa, para se ter o cuidado quanto à prescrição de fármacos que podem ser considerados doping.


 

REFERÊNCIAS

DE ROSE, EDUARDO HENRIQUE; NETO, FRANCISCO RADLER DE AQUINO; LEVY, Rachel, Informações sobre o uso de medicamentos no esporte 2010, nona edição, Rio de Janeiro, Brasil, janeiro de 2010.


PADILHA, M. C.; AQUINO NETO, F. R. Complementos, Nutricionais, Anabolizantes e o Controle de Dopagem no Esporte. Em: SEIBEL, S. D. Dependência de Drogas, cap. 12.2, p. 293-314, São Paulo: Atheneu, 2009.


WADA-AMA. World Anti-Doping Agency. WADA, Antidoping. 2013.

 

Quer aprender mais sobre doping?


Acesse nosso e-book e aprenda tudo sobre doping e suas conexões com a Odontologia!


 

Este artigo, de autoria de Lucas Berard, é o primeiro da série Drogas e Doping na Odontologia. Gostou? Deixa seu comentário ;)


355 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page