Autora: Larissa Leci
Mestranda em Odontologia da Unicsul
Com a tendência da legalização global do uso medicinal e recreativo da maconha, a prevalência do uso tem aumentado acentuadamente nos últimos anos. Aumentando também, as possíveis preocupações com a saúde relacionadas ao consumo de cannabis.
No meio esportivo, não é diferente e o consumo de canabióides vem aumentando nos últimos anos. Segundo estudos que foram realizados nos EUA e na Europa, o álcool é o primeiro na lista das drogas mais consumidas, e a maconha vem logo em seguida ocupando o segundo lugar, na frente do tabaco.
Os canabióides se enquadram na classe (S8) da WADA, uma categoria própria. Sendo considerado doping.
Isso pode ser explicado por 3 motivos:
1) Fumar é danoso para qualquer indivíduo;
2) Porque existe lacunas ainda não respondidas na literatura sobre os benefícios
atléticos da maconha;
3) Porque fere os princípios esportivos.
A planta possui cerca de 500 compostos diferentes, um deles são os compostos químicos orgânicos, que se enquadram na classe de estimulantes, incluindo o tetrahidrocanabinol (THC) e alguns de seus análogos, que podem ser vendidos em formato de pílulas, que são substancias psicoativas responsáveis pelos efeitos recreativos da planta.
Porém, nem todos os canabinóides são banidos no esporte. Como por exemplo o canabidiol (CBD), recentemente liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para uso no tratamento de doenças como epilepsia, fibromioalgia, autismo, Parkinson e esquizofrenia. Essa substancia compõe cerca de 40% do extrato da maconha e, ao contrário do THC, não causa euforia e alterações mentais, nem mesmo intoxicação.
O THC, é o responsável pelos principais efeitos psicoativos ou psicotrópicos da maconha. O nosso cérebro possui vários receptores específicos para os canabinóides - moléculas que são produzidas pelo nosso corpo em pequenas quantidades. A droga ocupa esses receptores e ativa uma série de respostas neurais afetando a memória de curta duração, prejudicando a atenção, distorcendo a percepção e, principalmente, desequilibrando o controle motor.
Cientistas esportivos acreditam que o uso de canabinoides externos, no caso a maconha, poderiam ter efeitos variáveis na motivação para o exercício. Alguns poderiam ter uma potencialização dos efeitos motivacionais, e outros, uma inibição.
Muitos atletas creem que a maconha promove efeitos, como melhora atlética, mas no atual momento ainda não existem estudos que comprovem tal afirmação. Muitas variações químicas são possíveis da droga e seus efeitos, dificilmente algum órgão regulador autorizaria pesquisas com esse tipo de droga em humanos pelos possíveis riscos envolvidos.
Portanto, ainda não conhecemos os efeitos dos análogos do THC isolados no organismo da população não atleta e muito menos nos esportistas, embora a substância seja vendida no mercado negro em pílulas.
O que sabemos é que o exercício intenso, isolado, é um grande fator de estresse no organismo, capaz de gerar muitas reações inflamatórias. Acredita-se que um dos efeitos da maconha é a diminuição da inflamação, consequentemente, reduzindo a dor. Este é um ponto importante para discussão, visto que a droga poderia ser usada como um analgésico por atletas para acelerar a recuperação de dores musculares e de lesões crônicas. Ambas as substancias, o THC e o CBD, estariam envolvidas nesse processo de controle da inflamação. (Vale ressaltar que ainda não existem estudos em humanos sobre o impacto dos canabinóides na recuperação pós-treinamento.)
Portanto, se a maconha possui o efeito de diminuir a dor, ela também vai atuar na redução da tensão muscular, ajudando no relaxamento do indivíduo em competições importantes.
Existe uma pequena evidência científica de que a maconha age promovendo a dilatação dos brônquios, o que ajuda respiração durante o exercício, melhora no desempenho aeróbico, além de inibir da asma induzida por exercício, sendo esses fatores considerados vantajosos para o atleta, por esses motivos, seriam considerado doping. Um desses estudos foi conduzido em 1978 e sua amostra foi composta por pacientes asmáticos e não atletas, porém a WADA o considera como referência, visto que existem poucos estudos com humanos na área.
Essas evidências foram consideradas fracas pelos cientistas, uma vez que o número da amostra foi considerado pequeno e a concentração da droga baixa. Pois nas décadas de 1970 e 1980, as plantas tinham por volta de 3% de THC, as atuais chegam a quase 20%.
Por outro lado, também existem outros estudos que observaram efeitos negativos na inalação da maconha na capacidade física de trabalho, dois estudos descobriram que a maconha precipitou a angina com uma carga de trabalho mais baixa (100% dos indivíduos) e a força provavelmente está reduzida. Além disso, demonstraram uma redução do tempo de exercício em 6,2% em indivíduos sob o efeito da droga, em comparação com aqueles que não usavam. Também deve ser relado que alguns indivíduos não conseguiram concluir um protocolo de exercícios devido a reações adversas causadas pela cannabis.
Em maio de 2013 a Agência Mundial Antidoping (Wada, em sigla em inglês) afrouxou as regras em relação a quantidade limite de THC permitida, aumentou 10 vezes: passou de 15 nanogramas por mililitro para 150 nanogramas. Isso representa que o novo limite indica que a pessoa utilizou maconha um ou dois dias antes do teste. Valores mais altos que isso, que acarretam em punição, aparecerão só se o atleta fumar pouco antes da prova.
Porém, na última reunião da WADA, decidiram que a partir de 2021, os atletas não serão punidos por uso de drogas sociais, como maconha e cocaína. Para isso, terá de se provar que a utilização da substância proibida não possui finalidade de obter performance. A decisão foi divulgada ao Estado pelo coordenador da Comissão Médica e de Combate à Dopagem da CBF, Fernando Solera.
A nova conduta muda a forma de punir e olhar atletas pegos no doping do mundo inteiro, e seria iniciada após os Jogos Olímpicos de Tóquio (Que foram cancelados devido a pandemia de COVID-19). A partir de 2021, quem comprovar o uso (de maconha ou cocaína para fim recreativo não receberá mais punição de quatro anos.
Então, podemos concluir que a Maconha é considera doping pela WADA acima de 150 nanogramas, devido aos seus possíveis efeitos analgésico, anti-inflamatório, brocodilatador e outros, podendo trazer benefícios aos atletas. Novas condutas em relação a substancia, serão discutidas a partir de 2021.
De qualquer forma, vale a pena lembra que: Fumar causa câncer, problemas pulmonares, leva à dependência, causa deficiência cognitiva, principalmente, nos jovens (maior população atleta), aumenta a chance de crises de ansiedade e depressão, irritabilidade, insônia, além de causar vários malefícios a saúde bucal (que deixaremos para discutir em outro momento).
Referências:
Hilderbrand RL. High-performance sport, marijuana, and cannabimimetics. J
Anal Toxicol. 2011;35(9):624-637. doi:10.1093/anatox/35.9.624
Hartley JP, Nogrady SG, Seaton A. Bronchodilator effect of delta1-
tetrahydrocannabinol. Br J Clin Pharmacol. 1978;5(6):523-525.
doi:10.1111/j.1365-2125.1978.tb01667.x
Borgelt LM, Franson KL, Nussbaum AM, Wang GS. The pharmacologic and
clinical effects of medical cannabis. Pharmacotherapy. 2013;33(2):195-209.
https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2016/08/31/atletas-
podem-fumar-maconha.htm
https://sportv.globo.com/site/blogs/o-cientista-do-esporte/post/2018/02/02/por-
que-a-maconha-e-doping.ghtml
https://istoe.com.br/novo-codigo-antidoping-prevera-advertencia-para-
consumo-de-maconha-e-cocaina/
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