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  • Helena Fronza

Doenças periodontais em atletas: existe correlação com a saúde sistêmica?

Atualizado: 17 de dez. de 2019


As doenças periodontais são agravos prevalentes na população atlética e esta alta morbidade indica que os cuidados estão sendo subestimados não apenas pelos profissionais da saúde, mas pelos próprios atletas e equipe de suporte.

Em revisão sistemática, Ashley et al., (2015), demonstraram que doenças periodontais moderadas a severas acometeram 15% dos pacientes do estudo e a gengivite foi encontrada em 76% dos atletas avaliados.

Seria pretensioso preocupar-se com a saúde geral do atleta e sua performance, tendo em vista uma doença periodontal instalada? Sabe-se que existem correlações entre doenças sistêmicas e as periodontites por três principais mecanismos de ação:

1) pela bacteremia transitória,

2) pela liberação de lipopolissacarídeos das bactérias gram-negativas periodontais

3) e pelas reações inflamatórias crônicas e agudas que os complexos antígeno-anticorpo decorrentes das infecções periodontais promovem.

Curiosamente, já foi atribuída uma correlação inicial entre índice de placa, profundidade de sondagem e lesões musculares em jogadores profissionais do clube Barcelona FC. É necessário que mais pesquisas avaliem essas correlações e seus mecanismos, porém, esse achado já faz com que nos atentemos para a possível influência sistêmica (mesmo que remota) que os agravos periodontais podem trazer.

Importante também de ser salientado é o fenótipo gengival que pode ser encontrado derivado do uso de anabolizantes, que tende a ser hiperplásico. Isso porque existem receptores específicos para androgênios estão presentes em fibroblastos gengivais, que duplicam de número em tecido gengival inflamado. Estas células são estimuladas a secretar colágeno e proteoglicanos na presença do metabólito principal da testosterona.

Além disso, o risco a periodontite severa aumentado com o uso de anabolizantes pelo aumento da proporção de bactérias gram-negativas em comparação com não usuários. Assim, além da preocupação com a saúde sistêmica, as suspeitas de uso e abuso de anabolizantes podem ser iniciadas a partir de um bom exame físico.

Não apenas essas particularidades podemos encontrar com a comunidade atlética e a periodontia. A microbiota local, o fluido crevicular, os fibroblastos e o exame físico dos tecidos periodontais têm muito a contribuir.

Existem muitos campos a serem pesquisados, por exemplo: os níveis de cortisol foram evidenciados como fator de risco para a doença periodontal, e estes tendem a ser aumentados em atletas que se encontram em épocas de competição. Também podemos salientar o papel protetor do estrógeno para a progressão de doenças periodontais e a preocupação com a tríade da mulher atleta, se a doença periodontal for um achado clínico.

Visto isso, o estudo da Odontologia do esporte com enfoque periodontal mostra-se essencial. Na área da morbidade, com a pesquisa de se existem fatores de risco associados ao exercício físico (extenuante, ou não) que possam aumentar o risco ao desenvolvimento e progressão dessas doenças (e se eles existem) e seus efeitos e mecanismos. Também na área de diagnóstico: o que os achados clínicos periodontais que podem dizer sobre a condição sistêmica e uso de substâncias pelo atleta. Ou até mesmo se esta alta prevalência é resultado de apenas má higiene oral.

Independente da resposta, as estratégias de educação em saúde, vigilância continuada e acompanhamento clínico das condições bucais do atleta são imprescindíveis e devem ser mais preconizados no cuidado da saúde geral dos atletas. Portanto, faz-se importante a inclusão da documentação de índices periodontais e de placa no prontuário do paciente, além das instruções básicas de saúde bucal, uma vez que estas condutas e dados estão (aparentemente) sendo negligenciados pelos profissionais da saúde bucal.

 

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